Monday, April 18, 2005

O olho do presidente

O Olho do Presidente!

- Grande não é moço!
- É sim senhora!
- O senhor já entrou lá?
- Já.
- Viu o presidente?
- Claro que não.
- É ele sempre tá muito ocupado.
- E como deve estar, minha senhora.
- Mas um dia eu e o meu João vamos conseguir entrar lá e falar com ele.
- Porque acha que ele falaria com a senhora?
- Porque confiei nele.
- É, e deu no que deu, juros altíssimos, desemprego, os bancos faturando milhões, o fracasso do fome zero, cabide de empregos, despreparo, aquelas tolices ditas em discursos de beira de palanque, e voracidade dos impostos que achatam os ganhos das empresas e o salário da classe média, despesas e mais despesas até avião comprou.
- Mas moço se ele ver o meu ...
- Acha que um dia verá, minha senhora?
- Vai ver, que ele não tem mais como trabalhar, a perna esmagou, e ele não tinha carteira assinada, não temos como provar que não tem mais a perna.
- Nossa sinto muito. Mas o que o presidente tem a ver com isso?
- Se o presidente ver ele, aí sim vai acreditar que ele não tem perna e vai aposentar. Nossa vida vai melhorar muito, com esse dinheiro vou poder comprar leite e até biscoito pros meninos.
- Quanto à senhora ganha, catando essas latinhas?
- Chego a ganhar $150,00 por mês, mas são cinco bocas moço, eu meu João minha filha e os dois meninos dela.
- E com esse valor a senhora consegue sustentar todo mundo.
- Mas não sobra nada, nada...
- Acredito. Vamos fazer uma coisa, vou dar um adiantamento da aposentadoria dele, até que o presidente enxergue-o.
- Mas moço, logo ele aposenta e tudo vai melhorar.
- Mas enquanto o presidente não tem tempo pra vê-lo vou lhe dar uma quantia todo mês e a senhora pode comprar o biscoito o leite e alguma coisa mais que tenho certeza à senhora saberá escolher.
- Obrigado moço. Viu como foi bom confiar nele, tudo está dando certo pra nós. O senhor está fazendo isso porque também sabe que assim que ele ver o meu João ele vai aposentar!
- Se lhe fosse permitido “ver”...
( O Olho do Presidente, B. Camboriu agosto/2005)
Crônica de Helenisa Kuze

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